1968 - SUBMARINO NUCLEAR AMERICANO AFUNDA-SE A 405 MILHAS DOS AÇORES
1968
A 22 de Maio de 1968 a Marinha dos Estados Unidos ("U.S. Navy") perdeu o USS Scorpion (SSN-589), um submarino nuclear da classe Skipjack, a cerca de 750 km (405 milhas náuticas) a sudoeste do arquipélago dos Açores, 32°55′N 33°09′W, afundando-se até a uma profundidade de 3 000 metros. O submarino, equipado com um reactor nuclear Westinghouse S5W, afundou-se transportando consigo, além do armamento convencional, 2 torpedos Mk.45 ("ASTOR"), anti-submarino, com ogivas nucleares (W34 de 11 quilotoneladas).
Após ter estado em operação no Mediterrâneo, desde Fevereiro de 1968, com as últimas fotos registadas ao largo de Napóles, Itália, a 10 e 14 de Abril de 1968, o USS Scorpion (SSN-589), comandado por Francis Atwood Slattery e com uma guarnição de 99 elementos, foi referenciado, no seu último contacto rádio a 21 de Maio de 1968, após passagem do estreito de Gibraltar e de uma paragem no Porto de Rota, em Cádiz (Andalucia, Espanha), a navegar, a Sul dos Açores. Estava aqui já na viagem de regresso prevista rumo a Norfolk, EUA, com a sua chegada projectada para 27 de Maio de 1968. Não se tendo a mesma verificado, e sem qualquer outro contacto, a Marinha dos Estados Unidos desencadeou uma alargada operação de busca que envolveu navios de superfície, submarinos e aeronaves de patrulha oceânica (num total que, em pico, alcançou os 55 navios e 35 aeronaves). Parte das operações são lançadas com meios projectados a partir da Ilha Terceira, nos Açores (cuja Base Aérea das Lajes tem um destacamento alargado de forças americanas residentes desde 1946). O submarino viria a ser localizado pelo USNS Mizar (AGOR-11), navio de investigação oceanográfica da Marinha dos Estados Unidos, a 31 de Outubro de 1698, geo-referenciação 32.916667, -33.150000, https://goo.gl/maps/nh1471RnGbeTrqrYA, a cerca de 750 km a Sudoeste da Ilha do Pico, Açores.
No registo vídeo aqui apresentado temos o USS Scorpion a navegar em momento anterior à sua última operação; fotos do mesmo, no Mediterrâneo, a 10 e 14 de Abril de 1968, junto ao navio de apoio logístico USS Tallahatchie County (AVB-2); o mapa anotado da apresentação feita num dos vários "briefings" no Pentágono (Washington, D.C.) por parte da Marinha dos Estados Unidos, referenciando a última posição conhecida do submarino, a sua rota projectada e o decurso das operações de busca com pontos de recolha ou identificação de vestígios; a preparação, em Junho de 1968, de meios no Porto das Pipas, em Angra do Heroísmo, na Ilha Terceira nos Açores, com destaque, em cor amarela, para o "Deep Sea", submarino de investigação científica (de 8,2 toneladas e 6,7 metros de comprimento, com capacidade para 4 elementos, construído por Edwin Albert Link em 1966, como "Perry-Link #4 ", certificado para operar até 410 metros); saída do USS Hoist (ARS-40), navio de busca e recuperação da classe Bolster, sendo visível, em segundo plano a Sé Catedral de Angra do Heroísmo, com as suas duas torres sineiras.
De cor branca, e com o característico logo do fabricante Westinghouse, com um "W" a ligar 3 pontos, temos um equipamento de sonar de varrimento lateral, destinado a mapear acusticamente o fundo do oceano. A operar o "telex", Fred New, que entrega dados de telemetria a Paul Taylor (navegador) e a Chester L. Buchanan (cientista), que os vão mapear na carta de navegação.
Em pleno Oceano Atlântico temos vários navios de apoio e de recolha de sinais (acústicos e magnéticos), apoiados por um submarino e por uma aeronave P3, envolvidos nas tarefas metódicas de localizar o submarino. Temos ainda o lançamento pela ré de um dos navios de busca, de bombas SUS ("Signal, Underwater Sound"), com pequenas cargas explosivas (as mais comuns tinham uma carga de cerca 800 gramas de TNT), de detonação subaquática, que geram a propagação de ondas de choque e frequências que permitem, acusticamente, obter informação sobre o fundo do oceano.
Temos um especialista civil, equipado com multímetro, a trabalhar sobre o equipamento conhecido popularmente no USNS Mizar como "Fish" ("Peixe"), ou "Photo Fish" ("Foto Peixe"), uma estrutura tubular de 1 800 kg e 2,74 metros, que alberga 2 projectores xeon de 200 watts, de luz estroboscópica e uma camara de 35mm com lente de muito grande-angular, 9.8mm, carregada com mais de 120 metros de rolo fotográfico, bem como dois sonares de varrimento local e um magnetómetro, e ainda um sensor de radioactividade e sensores de profundidade. Esta estrutura (de que o USNS Mizar transportava uma unidade principal e uma sobresselente) é rebocada a uma distância de cerca de 10 metros do fundo do oceano, interligada ao navio por um cabo coaxial de 6 700 metros de comprimento e cerca de 2 cm de diâmetro (3/4 polegada)- assegurando o fornecimento de energia e de comunicações ao mesmo. O "Fish" executou nesta missão mais de 200 000 fotos e percorreu mais de 10 000 milhas.
A 31 de Outubro de 1968, volvidos 145 dias de buscas naquele região a Sul dos Açores, os sensores magnéticos e acústicos do USNS Mizar detectam anomalias compatíveis com a localização do submarino e foram registadas fotos a partir da camara do "Fish" que permitiram documentar detalhes de diferentes secções do submarino no fundo do Atlântico, a 3 000 metros de profundidade. O USS Scorpion partiu-se em duas grandes secções e teve lugar a separação da sua torre.
Alguns meses mais tarde, entre 2 de Junho e 2 de Agosto de 1969, o batiscafo Trieste II, submarino de investigação, então certificado para poder operar a uma profundidade de 3 700 metros, esteve no local de afundamento do USS Scorpion (SSN-589) para realizar, ao longo de 9 mergulhos, mais perícias e recolher mais fotos. Em 1985 o local seria visitado pelo submarino HOV Alvin da "Woods Hole Oceanographic Institution" (WHOI), certificado para operação até 6 500 metros, com mais fotos realizadas. Ao serviço desde 1964, alvo de sucessivas melhorias e actualizações o HOV Alvin está ainda ao serviço tendo sido, em 1986, envolvido na exploração do destroço afundado do RMS Titanic.
Além dos elementos físicos e fotográficos recolhidos no local do afundamento, a Marinha dos Estados Unidos contava com a recolha de registos acústicos resultantes das intercepções produzidas a 22 de Maio de 1968 pelos hidrofones do "Sound Surveillance System" (SOSUS) e processadas na estação de escuta em La Palma, nas Ilhas Canárias. O programa de escuta SOSUS compreendia estações no Atlântico, nas duas costas dos EUA e no Hawaii, sendo, grosso modo, composto por dezenas de hidrofones no fundo do oceano que, interligados por cabos de comunicações a estações base terrestres, permitiam recolher e processar informação sobre fenómenos acústicos (motores, explosões, etc) - visando, entre outros, recolher informação sobre submarinos soviéticos. Da informação recolhida por estes meios ter-se-ão registado 2 explosões de que decorre o afundamento do USS Scorpion e, volvidos cerca de 20 minutos, a uma profundidade de 460 metros, dá-se a implosão do submarino (cuja profundidade de teste era de 210 metros e a máxima de 320 metros).
Os dois relatórios oficiais produzidos sobre as causas do afundamento do USS Scorpion (SSN-589), o primeiro de 1968, pela Marinha dos Estados Unidos, pelo Vice-Almirante Bernard L. Austin e o segundo, de 1970, pelos especialistas do "Naval Ordnance Laboratory" (NOL), Robert Price, Ermine Christian e Peter Sherman, não concluem sobre a causa efectiva. Existem, assim, mais ou menos fundamentadas e mais ou menos polémicas, várias teses sobre o sucedido - e que vão desde uma explosão de hidrogénio associada às baterias (consistente com as escutas dos hidrofones do SOSUS), à activação acidental de um torpedo ou à explosão de um torpedo no interior do submarino, ao disparo de um torpedo que viria, anomalamente, a atingir o próprio submarino até ao ataque por parte de um submarino da Marinha Soviética.
O USS Scorpion (SSN-589) era um submarino da classe "Skipjack" da Marinha dos Estados Unidos, que deslocava 3 214 toneladas, com um comprimento de 76,8 metros, uma boca de 9,7 metros e um calado de 9,1 metros. Propulsionado por um reactor nuclear Westinghouse S5W, que lhe permitia uma velocidade de 33 nós submerso (e de 15 nós à superfície) estava equipado, à vante, com 6 tubos lançadores de torpedos de 21 polegadas (533 mm), estando então armado com 13 torpedos - 8 unidades de Mark 16-6 (alcance de 8.22 km, velocidade de 31 nós); 3 unidades de Mark 37-1 (alcance de 21.03 km a 17 nós, ou de 9.14 km a 26 nós) e 2 Mark 45 com ogivas nucleares W34 de 11 quilotoneladas (alcance de 8 a 12 km). Foram construídos, entre 1958 e 1960, 6 submarinos da classe "Skipjack", tendo o USS Scorpion sido o terceiro a entrar ao serviço a 29 de Julho de 1960.
Vídeo seleccionado e editado por "Espada & Escudo". Vídeos originais por "National Archives Catalog" ("U.S. National Archives and Records Administration"). Fotos via "Naval History and Heritage Command" ("U.S. Navy")
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