BAIONETAS RETOMAM PONTE NO CENTRO DE SARAJEVO


Ponte de Vrbanja, Sarajevo
27 de Maio de 1995

Forças do Exército Sérvio-Bósnio ("Војска Републике Српске/Vojska Republike Srpske; ВРС/VRS"), disfarçadas com uniformes dos "capacetes azuis" da Organização das Nações Unidas (ONU), e com uma viatura blindada antes capturada às mesmas, tomam a Ponte de Vrbanja em Sarajevo, a posição "Sierra Victor" e o ponto fortificado contíguo na margem Sul, guarnecido pelas forças francesas afectas à força de interposição de Paz da ONU (UNPROFOR). Capturam, sem disparar um tiro e sem gerar alerta, todos os 12 militares franceses e colocam 2 deles como escudos humanos nas posições agora por si ocupadas junto à ponte (transportando os demais, como prisioneiros, para as linhas sérvias). Na madrugada de 27 de Maio de 1995 iniciava-se assim a Batalha da Ponte de Vrbanja.

Esta acção das forças sérvias teve lugar cerca das 04h30 de 27 de Maio de 1995, após, ao longo dos 2 dias anteriores, terem desencadeado várias acções congéneres no Teatro de Operações da cidade de Sarajevo, por elas sitiada, levando à captura e uso como escudos humanos de vários elementos da ONU.

A ponte de Vrbanja (geo-referenciação 43.853082658935925, 18.406563168179183 , ref. https://goo.gl/maps/hVj5yaaqm3ouvoWm7 ), sobre o rio Miljacka, que atravessa Sarajevo de Leste para Oeste, tinha na sua margem Sul, um posto de controlo da ONU, "Sierra Victor", que intermediava a zona "da frente" entre o bairro de Grabvica, a Oeste, sob controlo sérvio, e o bairro de Kovačići, sob controlo das Nações Unidas e sobre o qual projectava escoltas e patrulhas regulares a partir da posição onde estava sediado o 4.º Batalhão Francês (FREBAT4), sob comando do Coronel Erik Sandahl, em Skenderija, a cerca de 500 metros a Leste.

Cerca das 05h20 o Capitão François Lecointre, comandante da 1.ª companhia de infantaria mecanizada afecta ao FREBAT4, perante a ausência de contacto rádio com a sua posição "Sierra Victor", ruma à mesma, acompanhado pelo Sargento Taupaka, para se inteirar do que se estaria a passar. É surpreendido pela força sérvia, que mantinha os uniformes das forças francesas afectas à ONU, e que o tentam fazer prisioneiro. Os dois militares franceses consegue retirar para a posição de Skenderija, que alcançam pelas 05h45, e de imediato é desencadeado o planeamento para, cerca de 3 horas volvidas, as forças francesas lançarem um contra-ataque para recuperarem a ponte e os seus camaradas.

Na margem Norte são projectados dois pelotões do 3.º Esquadrão do RICM ("Régiment d'Infanterie-Chars de Marine"), cada um deles composto por 3 viaturas blindadas 6x6, de 9 toneladas, Panhard ERC-90 Sagaie, armadas com peça CN90 de 90mm, e por 3 viaturas blindadas tácticas ligeiras 4x4, de 3,5 toneladas, Panhard VBL. Um destes pelotões assume uma posição mais elevada no terreno, a cerca de 800 metros a Norte da ponte; e outro de maior proximidade num posição intermédia a Leste da ponte. Ambas as posições garantem tiro directo sobre as posições agora ocupadas pela forças sérvias.

Na margem Sul, é projectada uma força de assalto de infantaria, liderada pelo Capitão François Lecointre, que segue pelas ruas do bairro de Kovačići, com um efectivo de 1 pelotão do 3.º RMIA ("3e Régiment d'Infanterie de Marine"), composto por 30 fuzileiros, com o apoio, no seu flanco Sul, de algumas viaturas blindadas 4x4, de 13,5 toneladas, VAB T20-13 (armadas com canhões automáticos de operação remota, CN MIT 20 F2 de 20mm, com 700 munições, em posição central do topo do respectivo "chassis").

Cerca das 08h45 o Capitão Lecointre, já com a ponte à vista, ordena aos seus fuzileiros para armarem baionetas nas suas FAMAS, "bullpups" automáticas em calibre 5.56×45mm NATO, e inicia-se o assalto - que decorreria ao longo de uns intensos 23 minutos, parte dos quais em corpo-a-corpo, terminando cerca das 09h08 e resultando na (re)tomada da posição Norte da ponte e de parte da posição Sul, provocando 4 mortos e 3 feridos entre as forças sérvias e sendo capturados 4 outros (1 deles ferido). Os fuzileiros franceses, comandados pelo Capitão Lecointre, registaram 2 mortos e 17 feridos (2 deles com gravidade).

As forças sérvias interrompem o combate e é negociada uma trégua temporária, para recolha de feridos. Decorrem então negociações, entre os comandos militares, para troca de prisioneiros (os 10 militares franceses capturados no assalto sérvio da madrugada e os 4 prisioneiros sérvios agora capturados pelo contra-ataque francês). As forças sérvias comunicam um "ultimatum", no sentido de se não receberem os seus militares capturados até às 21h30 daquele mesmo dia, iriam executar os dois militares franceses que ainda ali mantinham como escudos humanos. Antes das 21h30 as forças sérvias, sem anúncio, abandonam as posições que ainda detinham na zona fortificada contígua a "Sierra Victor", permitindo a ocupação total da ponte e dos seus acessos imediatos pelas forças francesas. Os prisioneiros viriam a ser libertados, após negociações continuadas e alargadas, a 18 de Junho de 1995.

O Capitão François Gérard Marie Lecointre que comandou, com 33 anos, com o Tenente Bruno Heluin, esta força de assalto, e que protagonizou a última carga de assalto com baionetas armadas por parte das forças armadas francesas desde a Guerra da Indochina, terminada em 1954, viria a ascender, a 20 de Julho de 2017, já como General e com 55 anos, a Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas ("Chef d'État-Major des Armées"), função que desempenhou durante 4 anos até 22 de Julho de 2021.

A ponte de Vrbanja é hoje designada, e desde 3 de Dezembro de 1999, por "Ponte Suada e Olga" - homenageando Suada Dilberović e Olga Sučić, duas civis ali mortas, a 5 de Abril de 1992, no decurso de uma manifestação no início do Cerco de Sarajevo.

Cartografia e infografia por "Espada & Escudo"
Fotos via OSINT

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