1961 - BATALHA NAVAL EM GOA


Porto de Mormugão, Estuário do Zuari, Goa
18 de Dezembro de 1961


O NRP Afonso de Albuquerque (F470), fragata da Marinha Portuguesa, com 4 peças de 120mm como armamento principal, secundadas por 2 peças de 76mm, enfrentou uma força naval da Marinha da União Indiana, composta por 2 fragatas e 1 "destroyer", na derradeira defesa do Porto de Mormugão, em Goa, a 18 de Dezembro de 1961, face à Operação "Vijay" ("Vitória") que levaria à ocupação de Goa, Damão e Diu pelas Forças Indianas. Após cerca de 35 minutos de intensos combates e manobras, estimando-se que tenha disparado entre 350 a 400 munições, o NRP Afonso de Albuquerque encalha na Praia Bambolim, a cerca de 150 metros da margem. Consegue provocar alguns danos e baixas sobre o inimigo, mas sofre danos graves na sua ponte, no director de tiro, nas suas caldeiras e máquinas, e regista baixas significativas entre a guarnição (1 morto e cerca de 5 dezenas de feridos) - entre os quais, ferido, o seu próprio Comandante, Capitão-de-Mar-e-Guerra António da Cunha Aragão.

Com o arranque da Operação "Vijay" pela União Indiana, na madrugada de 17 para 18 de Dezembro de 1961, as Forças Armadas Portuguesas em Goa, a partir das 04:00 horas, recebem e recolhem informação sobre o desenrolar da mesma - com confirmação oficial do acto de guerra pelas 06:40 horas e início da ocupação de postos de combate pelos portugueses pelas 06:55 horas.

Pelas 09h00 horas, uma força naval da União Indiana, comandada por Rustom Khushro Shapur 'Rusi' Ghandhi, composta pelas fragatas INS Betwa (F139), navio almirante desta força, INS Beas (F137), e pelo "destroyer" INS Kaveri (U10), todos com nomes de rios indianos, é avistada entre 6 a 14 milhas do Porto de Mormugão, na margem esquerda do estuário do Rio Zuari, em Goa. Esta força enquadrava-se como parte de uma força alargada de muitos outros meios navais - compreendendo o portão-aviões Vikrant e mais de uma dezena de outros navios, compreendendo cruzadores, fragatas e "destroyers".

Antecedendo a batalha naval, a União Indiana desencadeou 3 ataques aéreos sobre objectivos militares em Goa - um primeiro, sob comando de N.B. Menon, pelas 07:00 horas, com o Esquadrão 16 e 35, com 12 bombardeiros a jacto, de altitude, Canberra, com bombas sobre o aeroporto em Dabolim - sobre o qual, em poucos minutos, foram projectadas mais de 28 toneladas. Um segundo ataque, a par daquele, conduzido por 6 aviões caças-bombardeiros, a jacto, Hawk Hunter, com foguetes e tiros de canhão automático, sobre a estação rádio naval em Bambolim, deixando a mesma destruída. E um terceiro ataque, sob comando de Surinder Singh, pelas 11:00, com 6 bombardeiros Canberra, novamente sobre o aeroporto e sobre objectivos no porto.

Cerca das 12h00 inicia-se a batalha naval, com o NRP Afonso de Albuquerque em manobra limitada no interior do estuário, junto ao Porto, e os 3 navios indianos aos rumos Norte e Sul, fora do Porto, disparando de bordo com todas as suas peças em cadência elevada. Com a a sua derradeira mensagem para o Comando Naval indicando "Estamos a ser atacados. Respondemos", os disparos do navio português conseguem provocar alguns danos nos meios e pessoal indianos (que viriam a registar 18 baixas), levando a que a uma das fragatas opte por retirar, sendo o ataque mantido por uma fragata e pelo "destroyer".

O plano de defesa contingente previa, como estava precisamente a suceder, se perante uma força esmagadora, deveriam encalhar na margem direita, junto à Praia de "Dona Paula", onde a protecção do terreno a Oeste e as linhas de tiro abertas sobre o Porto, a Sul, lhe permitira prolongar a defesa como bateria de artilharia estática. Tal acabaria por não ser possível, atingido, entre as 12h15 e as 12h25, na sua ponte e no seu director de tiro, bem como, entretanto, nas caldeiras e máquinas, com avarias eléctricas e nos elevadores, e com duas das peças, da ré, encravadas, pelo que acaba por rumar à Praia de Bambolim, a uns 2 kms a Leste da posição prevista, e encalhar, pelas 12:35 horas, a cerca de 150 metros da margem. Ferido, o comandante António da Cunha Aragão, entrega antes desta derradeira manobra, o comando ao seu imediato, o Capitão-de-Fragata Pinto da Cruz, reiterando que se mantenham em combate e que não se rendam.

Pelas 12:50 horas é dada ordem para abandonar o navio, ainda debaixo de fogo, e já cerca das 13:10 o NRP Albuquerque é abandonado e, pelas 13h00 do dia seguinte, 19 de Dezembro de 1961, a guarnição seria aprisionada pelas Forças da União Indiana. A Operação "Vijay" alcançaria assim, como o seu próprio nome, a vitória e ocupação de Goa em cerca de 40 horas. Pelas 20h30 deste mesmo dia 19 de Dezembro de 1961, Manuel António Vassalo e Silva, Governador do Estado Português da Índia, assinava a rendição dos territórios e das suas forças.

O NRP Afonso de Albuquerque permaneceu encalhado até 1962, quando acabaria por ser rebocado para Bombay, integrado na Marinha da União Indiana com o nome de Saravastri (também nome de rio), mas rapidamente abatido para sucata. Alguns elementos do navio, entre os quais o estandarte-bandeira, foram preservados e fazem parte da exposição do Museu Naval de Mumbai.

O navio português, lançado à água em 1934 como Aviso de 1.ª Classe e, pós 2.ªa Guerra Mundial, classificado como fragata, com 99 metros de comprimento e deslocando 2 440 toneladas, com uma guarnição de 169 elementos, enfrentou aqui fragatas modernas da União Indiana, "Type 51", classe Leopard, com uma cadência de tiro e sistemas de pontaria mais eficazes, lançadas à água em 1959 - ou seja 25 anos mais modernas. O NRP Afonso de Albuquerque conseguiria uma cadência de tiro de 2 tiros por minuto com as suas peças principais, quando as fragatas do seu inimigo, praticamente do mesmo calibre, conseguiam até 14 disparos por minuto. O "destroyer" indiano, que as acompanhava, ao serviço desde 1943, e que participou no ataque, estava armado com 3 peças duplas de 102 mm (QF 4 in, Mk XVI) capazes de 10 a 20 disparos por minuto.

Terminou assim, após 426 anos, a presença portuguesa no subcontinente indiano, coincidentemente com um episódio de defesa derradeira por um navio com o nome de Afonso Albuquerque, que foi o 2.º Governador da Índia Portuguesa, de 1509 a 1515, e um notável líder e estratega militar no Império Português no Oceano Índico - tendo estabelecido, precisamente em Goa, a capital do Estado Português da Índia.

Mapa e composição infográfica por Espada & Escudo
Fotos via OSINT

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