"Dashan" - Terceiro petroleiro da "Frota Fantasma" atacado no Mar Negro pelas Forças Ucranianas em duas semanas


Crimeia, Mar Negro 
10 de Dezembro de 2025

Ataque com drones de superfície "Sea Baby" das Forças da Ucrânia ao navio petroleiro "Dashan" (IMO 9299666), com pavilhão da Gâmbia (anteriormente das Comores e de Djibouti), referenciado e sancionado como parte da "Frota Fantasma" da Federação Russa, no Mar Negro, a Sul da Crimeia, a 10 de Dezembro de 2025.
A 28 de Novembro de 2025 foram atacados no mesmo contexto os petroleiros "Kairos" (IMO 9236004) e o "Virat" (IMO 9832559). Tratou-se, como aqui, de uma acção conjunta da 13.ª Directoria Principal ("13-го Головного) do Departamento de Contra-Inteligência Militar ("Департамент військової контррозвідки") dos Serviços de Segurança da Ucrânia ("Служба безпеки України", СбУ; "Sluzhba Bezpeky Ukrayiny", SBU) e da Marinha Ucraniana.
O "Dashan" foi construído em 2005 pela sul-coreana Hyundai Heavy Industries Co. Ltd., de tipologia "Suezmax", com um comprimento de 275 metros, 50 metros de boca, 17 metros de calado, e 164 mil toneladas. Tendo cruzado o Estreito do Bósforo e entrado no Mar Negro cerca das 13:05 UTC de 9 de Dezembro, navegava a 10 de Dezembro de 2025, ao largo da Crimeia, a cerca de 86 milhas náuticas (160 km) a Sul do Porto de Feodosia ("Феодосія"), no Mar Negro, com rumo ao porto russo de Novorossiysk ("Новоросси́йск"). Navegava com um calado a 8,6 metros, indicando ausência de carga transportada.
O ponto do ataque dista cerca de 260 milhas náuticas (480 km) a Leste-Sudeste da foz do delta do rio Danúbio, a jusante de Vylkove ("Вилкове"), podendo os drones ucranianos ter partido das suas imediações ribeirinhas. Esta localidade ucraniana, parte da região administrativa de Odesa ("Одеса"), e a cerca de 150 km a Sul-Sudoeste desta cidade, é conhecida como a "Veneza da Ucrânia" ("Українська Венеція", "Ukrainska Venetsiia"), fazendo, separada pelo delta do rio Danúbio, fronteira com a Roménia.
Desenvolvidos pelo SBU desde Julho de 2022 e em operação desde Fevereiro de 2023, os "Sea Baby" são uma plataforma modular de embarcações não tripuladas usadas, com ogivas de alto-explosivo e apoiadas por sensores electro-ópticos, navegação e comunicações via satélite, desenhadas originalmente para atacar navios e infraestruturas em contexto marítimo e ribeirinho (vulgo, como "drones" navais suicidas). Suportam uma carga de até 2 toneladas com um alcance operacional na ordem dos 1 500 km. Novas versões, apresentadas em Outubro de 2025, compreendem já sistemas de armas (plataforma de 10 foguetes "Grad" de 122mm, e estação remota com metralhadora pesada NSV "Utyos" ("Утёс", "Rochedo"), calibre 12.7×108mm) colocando uma dimensão táctica e operacional mais alargada e reutilizável a esta plataforma.
Durante a 2.ª Guerra Mundial a Marinha Imperial Japonesa usou as "Shinyo" ("震洋") - lanchas de madeira deslocando 1.35 a 2.2 toneladas, capazes de velocidade de 26 a 30 nós, equipadas com uma carga de alto explosivo de 270 kg, visando, em acção suicida, atacar os navios inimigos. Estas lanchas contavam também com plataformas lança-foguetes de 120 mm, montadas uma em cada bordo, à ré. Foram produzidas mais de 6 milhares de unidades.
O termo "Frota Fantasma" (ou frota "sombra"), que integra as tipologias de risco da "Dark Fleet" e da "Grey Fleet", constitui um fenómeno estrutural adoptado por analistas de transporte marítimo, como a Lloyd’s List Intelligence, e especialistas em regimes coercivos. Esta vasta e crescente rede de petroleiros (estimada entre 300 a 600 unidades) tem como objectivo primário eludir o regime de sanções financeiras e as regulamentações internacionais aplicadas ao petróleo de jurisdições sancionadas, designadamente a Federação Russa, na sequência da sua invasão da Ucrânia em 2022. Tais navios operam maioritariamente sob bandeiras de conveniência de baixo custo regulatório, caracterizando-se pela opacidade deliberada nas estruturas de titularidade final (UBO) e, frequentemente, pela ausência ou deficiência de cobertura P&I (Protecção e Indemnização). A utilização desta frota paralela permite manter o fluxo global da produção de crude, mesmo sob sanções, mas suscita sérias preocupações internacionais no que concerne à mitigação do risco de sinistralidade marítima e poluição ambiental, dada a sua deterioração do estado estrutural e deficiente classificação técnica, bem como o recurso a práticas de transporte enganosas (DSP, "Deceptive Shipping Practices"), como as operações de transbordo no mar (STS, "Ship-to-Ship Transfers").
O petroleiro "Dashan" (IMO 9299666), ex-"Mianzimu", foi adicionado à lista de sanções da União Europeia em 17 de Dezembro de 2024 e às do Reino Unido ("Office of Financial Sanctions Implementation", OFSI) na mesma data. Está também sancionado, nos mesmos termos, pelas autoridades do Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Suíça.









Vídeo via SBU com fotos seleccionadas e editados por E&E

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