FORÇAS ESPECIAIS PORTUGUESAS EM ASSALTO ANFÍBIO SOBRE CONAKRY


Guiné-Conakry
22 de Novembro de 1970

Naquela que foi a primeira operação de forças especiais regulares em África, contra outro País, no contexto da história militar moderna, a "Operação Mar Verde" foi um assalto anfíbio sobre Conakry, a capital da República da Guiné-Conakry, concebido e executado a 22 de Novembro de 1970 pelo Centro de Operações Especiais das Forças Armadas Portuguesas da Província Ultramarina da Guiné, sob liderança do Cap-Ten Fuzileiro Guilherme Almor de Alpoim Calvão e do Gen António de Spínola, Governador e Comandante Chefe das Forças Armadas daquela província portuguesa, visando a destruição de meios do PAIGC ("Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde") e de meios de apoio das forças da Guiné-Conakry; a libertação de 26 prisioneiros de guerra portugueses; e o suporte a um movimento de golpe de estado por parte de uma força de oposicionistas guineenses exilados da FLNG ("Front de Libération Nationale Guinéen").

Entre os objectivos materiais da Operação "Mar Verde" estava a destruição de um conjunto de 4 lanchas "Komar", Project 183 (com 44 nós de velocidade máxima, de 66,5 toneladas e 25,4 metros de comprimento, armadas com 1 canhão duplo 2M-3M de 25 mm, com 1 000 munições, e 2 lança-mísseis anti-navio P-15 Termit, designação NATO SS-N-2 "Styx") fornecidas pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) à Guiné-Conakry; bem como de 3 lanchas P-6, Project 183 Bolshevik (com 43 nós de velocidade máxima, de 68 toneladas e 25,5 metros de comprimento, armadas com 2 canhões duplos 2M-3M de 25mm e 2 tubos lança-torpedos de 533mm), fornecidas pela URSS ao PAIGC. Meios navais estes que constituíam uma ameaça determinante à Marinha Portuguesa (militar e mercante) no Teatro de Operações da Província da Guiné - tal como, para todas as Forças Armadas, dos aviões MiG-17 que, a 24 Abril de 1968, haviam já interceptado dois T-6G "Texan" da Força Aérea Portuguesa, comandados pelo Ten Arantes de Oliveira e pelo Alf Oliveira Couto.

O assalto foi conduzido por uma força de mais de 400 elementos projectados por 6 navios da Marinha Portuguesa. A força de assalto era composta pelo DFE21, Destacamento de Fuzileiros Especiais Africano n.º 21 (um efectivo de 81 homens), por uma Companhia de Comandos Africanos (um efectivo de 150 homens), elementos dos Paraquedistas, os elementos da FLNG (cerca de 200 homens) e alguns elementos recrutados especialmente para esta operação. Esta força foi projectada e protegida por um conjunto de 6 meios navais, compreendendo 4 lanchas de fiscalização grande (LFG): Hidra, P376 (Cte Fialho Góis), Orion, P362 (Cte Faria dos Santos), Dragão, P374 (Cte Duque Martinho) e Cassiopeia, P373 (Cte Lago Domingos); e 2 lanchas de desembarque grande (LDG): Bombarda, LDG105 (Cte Aguiar de Jesus) e Montante, LDG104 (Cte Costa Correia).

A força anfíbia, liderada pela LFG Orion, partiu pelas 19h50 de 20 de Novembro de 1970, da Ilha de Soga, na Província Ultramarina da Guiné (onde desde Janeiro de 1970 eram treinados os oposicionistas guineenses da FLNG). Esta ilha, parte do arquipélago dos Bijagós, dista de Conakry, a Sul, cerca de 180 milhas náuticas (330 km).

Os meios navais foram apoiados nesta deslocação por uma aeronave bimotor Lockheed P2V-5 Neptune da Força Aérea Portuguesa, para detecção de possíveis ameaças capazes de a surpreender e detectar. Os faróis de Conakry são avistados pelas 20h00 de 21 de Novembro de 1970, tendo então lugar a dispersão dos meios da frota em função dos respectivos objectivos individuais.

O agrupamento "Victor", uma força de fuzileiros projectada pela LFG Orion, sob comando do 2.º Ten Rebordão de Brito, tinha como objectivo a destruição das lanchas "Koman" e P-6 no porto. Com recurso aos seus botes, partem pelas 00h45 de 22 Novembro de 1970 e alcançam as lanchas "Koman" e atacam-nas, a partir das escotilhas e albóios, com granadas de fragmentação e incendiárias, resultando na sua destruição e em pesadas baixas sobre as respectivas guarnições surpreendidas pelo assalto. A acção prossegue sobre as 3 lanchas P-6 do PAIGC, conduzindo à destruição de um total combinado de 7 meios navais em resultado do seu incêndio e explosão.

O agrupamento "Zulu", uma força de fuzileiros projectada a partir da LFG Dragão e da LFG Cassiopeia, com dez botes estava dividido em 3 grupos: um 1.º grupo, sob comando do 1.º Ten Cunha e Silva com objectivo de atacar a prisão do PAIGC ("La Montagne") onde estavam os 26 prisioneiros de guerra portugueses; um 2.º grupo, sob comando do Sub-Ten Falcão Lucas tinha como objectivo atacar o quartel-general do PAIGC; e um 3.º grupo, sob comando do 2.º Ten Benjamim Abreu, tinha como objectivo atacar Villa Silly, a residência do presidente da Guiné-Conakry, Ahmed Sékou Touré, e o campo das respectivas milícias. Pelas 01h40 de 22 Novembro de 1970, os seus botes partem para o desembarque rumo a estes objectivos. Todos os objectivos são alcançados com sucesso e garantida a libertação de todos os 26 prisioneiros de guerra portugueses. Quer a residência do presidente em Villa Silly (de que estava ausente) quer o quartel general do PAIGC são destruídos e com inúmeras baixas entre o inimigo.

Os agrupamentos "Oscar", "India" e "Mike", uma força de comandos, liderados pelo Alf. Ferreira e pelo Alf. Tomás Camará, são projectados pela LDG Montante. "Oscar" tinha com o objectivo atacar Campo Boiro, o Quartel General da Guarda Republicana da Guiné ("Garde Républicaine de Guinée"), unidade militar de elite com formação prestada por conselheiros militares checos. O agrupamento "Mike", composto por 15 elementos dos comandos e 35 elementos da FNLG, tinha como objectivo Campo Samory Touré, onde estavam estacionadas viaturas pesadas de transporte, viaturas blindadas ligeiras de combate e armazenados stocks de munições. O agrupamento "India", comandado pelo Fur Demba Sêca, composto por 10 comandos e um especialista de engenharia electromecânica da FNLG, tinha por objectivo a Central Eléctrica de Conakry - cujo inoperacionalização alcançam com sucesso. Os objectivos em Campo Boiro e em Campo Samory Touré são também alcançados com sucesso, com intensos combates a provocarem inúmeras baixas inimigas, destruição de viaturas blindadas e de material.

O agrupamento "Alfa", projectado pela LDG Bombarda, ocupa com sucesso o seu objectivo, o Palácio Presidencial, estando ausente do mesmo o Presidente Ahmed Sékou Touré.

O agrupamento "Sierra", projectado pela LFG Hidra, composto por 38 comandos e 6 elementos da FNLG, sob comando do Cap. Paraquedista Lopes Morais, tinha por objectivo a destruição das aeronaves Mikoyan-Gurevich MiG-17 estacionadas no Aeroporto. "Sierra" alcança o seu objectivo pelas 02h25 de 22 de Novembro de 1970 dando conta que afinal os MiG-17 não estavam, como esperado, presentes. De facto os mesmos tinham sido retirados no dia anterior para a Base de Labé. Este objectivo não foi, assim, alcançado.

Com apenas 6 baixas entre as forças Portuguesas (3 mortos e 3 feridos), a esquadra reúne-se, recolhendo os meios e efectivos projectados, bem como os 26 prisioneiros resgatados, e entra em formação pelas 08h10 iniciando o regresso à Ilha de Soga, onde fundeiam pelas 15h30 de 23 de Novembro de 1970.

Mapa e Infografia por "Espada & Escudo"
Fotos via OSINT

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