"O Núcleo do Demónio" - A Terceira Bomba Nuclear dos EUA em Agosto de 1945
EUA
Agosto de 1945
Além das duas bombas nucleares lançadas pela Força Aérea dos Estados Unidos da América (EUA) sobre o Japão em 1945, de 15 kt (a 6 de Agosto sobre Hiroshima, "Little Boy") e de 21 kt (a 9 de Agosto sobre Nagasaki, "Fat Man"), foi produzida uma terceira, da mesma tipologia da "Fat Man", com capacidade para ser lançada a partir de 17 a 18 de Agosto de 1945, projectando-se que teria como possíveis alvos as cidades japonesas de Kokura, Niigata ou Yokohama, a 19 ou 20 de Agosto de 1945.
Com a rendição japonesa anunciada a 15 de Agosto de 1945, a bomba não foi usada, tendo sido preservado o seu núcleo de plutónio 239 para efeitos de investigação e desenvolvimento em Los Alamos (Novo México, EUA), tendo sido originalmente alcunhado de "Rufus". Viria a receber a alcunha de "Núcleo do Demónio" ("Demon Core") em resultado de dois acidentes críticos, com vítimas mortais, em contexto de laboratório, vindo, em 1946, o núcleo a ser fundido e reciclado para uso em outros projectos.
O núcleo do "Rufus" com uma massa de 6,2 kg, correspondia a uma esfera de 8,9 centímetros de diâmetro, composta por dois hemisférios. Em Los Alamos, os investigadores procuravam, usando o mesmo, realizar testes avançados para determinar a massa e geometria mínima para o estado supercrítico imediato do plutónio — ou seja, o ponto a partir do qual a massa atingia criticidade, desencadeando uma excursão súbita com intensa emissão de neutrões e radiação gama letal.
A 21 de Agosto de 1945, um acidente por erro humano, durante testes manuais com a colocação de elementos de carboneto de tungsténio, como reflectores de neutrões, levou a que o núcleo entrasse em breve excitação supercrítica libertando radiação que provocaria a morte ao físico Haroutune "Harry" Krikor Daghlian Jr., 25 dias depois, por síndroma aguda da radiação, forma hematopoiética, caracterizada por pancitopenia grave decorrente da destruição da medula óssea. A 21 de Maio de 1946, este mesmo núcleo estaria envolvido num segundo acidente, com reflectores de neutrões, seguindo um protocolo não aprovado e com erro manual humano, provocando breve excitação supercrítica do núcleo e libertação de radiação numa sala de laboratório com 8 elementos presentes - resultado, 9 dias depois, na morte do físico Louis Alexander Slotin por síndroma aguda da radiação, forma gastrointestinal.
Após estes dois acidentes o núcleo recebeu a alcunha de "Núcleo do Demónio" ("Demon Core") e, no Verão de 1946, acabaria por se fundindo e o material reciclado para uso em outros núcleos.
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