OPERAÇÃO "ÁTILA"


Chipre
20 de Julho a 18 de Agosto de 1974

Decorrente dos acordos de Zurique e Londres, a 11 e 19 de Fevereiro de 1959, entre autoridades Gregas, Turcas e Britânicas, Chipre via proclamada a sua independência a 16 de Agosto de 1960. Os termos da constituição cipriota visavam, repartindo e estruturando poder executivo e legislativo, acautelar as graves e fracturantes tensões entre as comunidades de Cipriotas Turcos (cerca de um quinto da população, na sua maioria muçulmanos sunitas e com implantação no Norte da ilha) e Cipriotas Gregos (cerca de quatro quintos da população, na sua maioria cristãos ortodoxos e com implantação na região Sul da ilha).

O modelo constitucional e a governação de facto não viriam a conseguir conciliar estas comunidades e, em finais de 1963, Chipre vê emergir actos de grande e crescente violência entre as duas comunidades que conduzem a que as Forças Turcas estacionadas na ilha ocupem a estrada estratégica entre a capital Nicosia e Kyrenia, passando a sua utilização por Cipriotas Gregos a ser apenas possível sob escolta das Nações Unidas ("United Nations Peacekeeping Force in Cyprus", UNFICYP) - um contingente cuja presença se inicia em 1964 e ainda se mantém actualmente. A cisão política e geográfica da ilha agrava-se ao longo dos anos seguintes (com a constituição de milícias, enclaves, e ataques armados e barramentos sucessivos) entre ameças de invasão pelas Forças Turcas e pressão para retirada das Forças Gregas da ilha.

A 15 de Julho de 1974, unidades da Guarda Nacional Cipriota, com o apoio de oficiais afectos à junta militar que desde 1967, sob a liderança do Brigadeiro Dimitrios Ioannidis, governava a Grécia, levam a efeito um golpe estado em Chipre, visando um modelo de "Enosis" ("Ένωσις"), i.e., a união de Chipre À Grécia, e depondo o primeiro presidente eleito de Chipre, o Arcebispo Makarios III (Michael Christodoulou Mouskos) que escapa ao mesmo retirando para a cidade de Phapos (a cerca de 100 km a Sudeste da capital Nicosia) de onde, com apoio das Forças Britânicas, é transportado de helicóptero para a base destas em Akrotiri (a cerca de 50 Km a sudoeste de Phapos) e, a partir desta, com apoio das mesmas, segue, a 16 de Julho de 1974, para Malta, e, posteriormente, para Londres.

A 20 de Julho de 1974, com o objectivo de defesa da comunidade Cipriota Turca e de, ao abrigo do artigo quarto do Tratado de Garantia de Zurique, impedir uma possível agregação grega do território, o Estado Turco lança a Operação "Átila" ("Atilla" em turco), desembarcando forças na região costeira de Kyrenia (Girne), no Norte de Chipre, a cerca de 20 km a norte da capital Nicosia. Este desembarque tem lugar na Praia de Pentemili, a cerca de 8 km a Oeste de Kyrenia.

Tratou-se de uma operação de armas combinadas das Forças Armadas da Turquia, compreendendo meios do Exército, da Força Aérea e da Marinha, visando desembarcar, numa primeira vaga, um efectivo de 3 500 militares, apoiados por paraquedistas, 12 obuses M101 de 105mm, 20 viaturas blindadas M113 e 15 carros de combate M47 "Patton", destinados a consolidar uma testa de ponte; seriam apoiados por uma segunda vaga, composta por 1 companhia blindada (17 carros de combate) e 1 companhia de infantaria mecanizada (com viaturas blindadas M113). Consolidada a testa de ponte o objectivo seria o de tomar a cidade portuária de Kyrenia e, a partir desta, avançar sobre o aeroporto de Nicosia.

Face ao desembarque nas primeiras horas da manhã de 20 de Julho de 1974, a Guarda Nacional Cipriota, com o apoio das milícias do OEAK B e das forças gregas estacionadas na ilha (ELDYK) iniciam o seu contra-ataque. Com recurso a duas lanchas lança-torpedos (a T1 e a T3) tentam atacar a frota turca, sendo ambas afundadas por acção combinada dos meios navais e meios aéreos turcos. Em terra procedem a contra-ataque com recursos de infantaria, artilharia, viaturas blindadas e carros de combate T-34/85 e ao estabelecimento de posições defensivas cruzadas, com recurso a viaturas blindadas 6x6 M8 "Greyhound", armas portáteis anti-carro (M20 "Super Bazooka") e unidades de comandos (Gregos e Gregos-Cipriotas) e de infantaria, para a defesa do aeroporto da capital Nicosia.

Travam-se violentos combates nos 2-3 dias seguintes, acabando as forças turcas por consolidar e alargar a testa de ponte e controlar a cidade de Kyrenia mas sendo travados no perímetro exterior do aeroporto da capital, onde se travariam violentos combates com várias ofensivas e contra-ofensivas. Os confrontos alastram a vários enclaves Cipriotas Turcos na ilha com avanços e recusos entre forças Gregas e Turcas, e acusações mútuas de bombardeamentos e ataques sobre populações e violação de direitos humanos.

A 23 de Julho de 1974 a Junta Militar que governava Atenas e que tinha motivado o golpe de estado em Nicosia, colapsa, em resultado de todo o desenvolvimento em Chipre, e, entre 25 e 30 de Julho de 1974 iniciam-se negociações de Paz em Genève. Em paralelo, a Grécia rapidamente inicia a reposição da via democrática no seu executivo, com o regresso do exílio em Paris, a 24 de Julho de 1974, de Constantine Karamanlis para assumir o cargo de Primeiro-Ministro.

A 14 de Agosto de 1974 as Forças Armadas da Turquia lançam uma segunda ofensiva, no que seria designado por Operação "Átila - II", apesar de estar em vigor um cessar-fogo acordado e supervisionado pelas Nações Unidas e de estar curso, desde 10 de Agosto de 1974, a segunda ronda de negociações de Paz em Genève.

No decurso desta segunda fase do conflito tem lugar, nos arredores de Nicosia, o primeiro combate directo entre carros de combate M47 "Patton" turcos e T34/85 gregos, bem como violentos confrontos, com infantaria, artilharia, armas anti-carro, ao longa da "Linha Verde", a zona de demarcação entretanto estabelecida pela Nações Unidas, com pesadas baixas entre ambos. Entre 16 e 18 de Agosto de 1974, as forças em conflito reagrupam, consolidam posições defensivas com "bunkers", campos minados, armas pesadas, e as operações cessam.

A operação "Atíla II" conduziu assim à ocupação por parte das Forças Turcas de 37% do território de Chipre (nas operações desenvolvidas no mês anterior a ocupação alcançada foi de 7%). A 13 de Fevereiro de 1997 a Turquia declarou a área assim ocupada como sendo um Estado Federado Turco. Em 1983 é autoproclamada a República Turca de Chipre do Norte ("Kuzey Kıbrıs") até hoje sem reconhecimento internacional e num conflito que se mantém, afectando as relações entre a Turquia, a Grécia, Chipre e a demais União Europeia.

O nome dado a esta operação corresponde a Átila (c. 406–453), Rei do Hunos, que governou o maior império europeu do seu tempo, compreendendo territórios desde o Sul da actual Alemanha até ao Rio Ural, e desde o Báltico ao Mar Negro.

Fotos e diagramas via OSINT
Composição e edição por "Espada & Escudo" 

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