BRASIL CONTRA-ATACA GUERRILHA COLOMBIANA NA AMAZÓNIA
Estado do Amazonas, Brasil
1991A 26 de Fevereiro de 1991, o "Destacamento Traíra" do Exército Brasileiro, composto por 17 militares, estacionados numa pequena base na margem de uma das inúmeras curvas do Rio Traíra, na zona fronteiriça do Estado do Amazonas com a Colômbia, são atacados, numa manobra de envolvimento, por um grupo de 40 guerrilheiros da CGSB - "Coordinadora Guerrillera Simón Bolívar" / FARC - "Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia", camuflados e equipados com espingardas automáticas H&K e AK-47, com apoio de metralhadoras e "snipers".
Em resultado deste ataque, punitivo pelas acções ali conduzidas pelos militares brasileiros contra a exploração ilegal e tráfico de ouro na região (umas das fontes de financiamento das FARC), registam-se 3 mortos e 9 feridos na unidade brasileira, bem como a captura das suas armas, munições e equipamentos pelos guerilheiros (que não sofreram quaisquer baixas no decurso desta acção). Tendo sido capturados os seus equipamentos radio, e estando numa zona muita remota, só a 1 de Março de 1991, por chegada ao local de uma patrulha para render efectivos, o ataque foi conhecido pela hierarquia do Exército.
Com o objectivo de responder a esta ataque, e de garantir que não se registariam novas incursões das FARC em território brasileiro, os representantes do Brasil e da Colômbia reúnem e decidem de imediato a realização da Operação Traíra. As Forças Armadas do Brasil colocam, assim, em acção uma alargada operação de armas-combinadas. Do lado do Exército, contando com operacionais do "Batalhão Amazonas", 1º Batalhão de Infantaria de Selva (1.º BIS), sediado em Manaus, unidade de elite do Comando Militar da Amazónia (CMA) e do 1º Batalhão de Forças Especiais (1.º BFEsp), sediado no Rio de Janeiro, através da um Destacamento de Acção Imediata, e ainda do 1º Comando de Fronteira Solimões / 1º Batalhão Especial de Fronteira (1.º Cmdo Fron-Solimões / 1.º BEF) - este último a quem estava afecto o Destacamento atacado; a que juntaram, pela então recém criada Aviação do Exército, 4 helicópteros Helibras HM-1 "Pantera" (Eurocopter AS565 Panther) e 2 helicópteros "HA-1" Esquilo (Eurocopter HB350B Ecureuil). Do lado da Força Aérea, 6 helicópteros de transporte H-1H (Bell UH-1 Iroquois), 6 aeronaves de ataque ao solo Embraer EMB-312 AT-27 Tucano, 2 aeronaves de reconhecimento C-95 Bandeirante (Embraer EMB 110) e aviões de apoio logístico Lockheed C-130 Hércules e C-115 Búfalo (de Havilland Canada DHC-5 Buffalo). Do lado da Marinha, um navio de patrulha fluvial (NPaFlu), Pedro Teixeira (P-20), da classe com o mesmo nome, da Flotilha do Amazonas (FLOTAM), sediada em Manaus, que se deslocou para Vila Bittencourt (onde estava instalado o Posto de Comando do CMA para esta operação), para reforço de segurança e apoio logístico. Do lado Colombiano, entraram em acção operacionais do Batalhão "Bejarano Muñoz", sediado em La Pedrera/Taraira, como barreira a Norte das acções.
As forças seleccionadas do 1.º BFEsp foram divididas em 4 agrupamentos: "Alfa" e "Bravo" para Infiltração e Reconhecimento, com 18 elementos cada; "Charlie" para Combate Directo, também com 18 elementos; e "Delta" para Comando, Comunicações e Controlo, com 10 elementos. Estes 64 elementos, e demais logística, são rapidamente transportados para a Base Aérea dos Afonsos (Rio de Janeiro), onde 2 aeronaves C-130 Hercules os aguardam, e os transportam para a Base Aérea de Brasília de onde, com as suas ordens confirmadas, partem para a missão - infiltração na selva Colombiana e localização dos guerrilheiros das FARC. A 2 de Março de 1991, estas forças estão já em Vila Bittencourt (a par das demais unidades do CMA e meios de apoio da Força Aérea e Aviação do Exército) e iniciam as operações de reconhecimento e transporte local, com recurso a helicópteros, prosseguindo para manobras de infiltração na selva.
Nos primeiros dias de infiltração, os agrupamentos "Alfa" e "Bravo" conseguem estabelecer contacto com pequenas unidades isoladas das FARC, travando-se as primeiras escaramuças com o inimigo - das mesmas resultam vários prisioneiros, e, interrogados os mesmos, recolhe-se informação da localização da respectiva base, dos diferentes acampamentos, da distribuição e dimensão do respectivo efectivo. A base do CGSB/FARC naquela região ficava a Noroeste da Base Traíra, a cerca de 5 horas de percurso fluvial e 2 horas de caminhada na selva, dentro de território Colombiano.
A 7 de Março de 1991, elementos do 1.º BIS partiram rumo à base inimiga. Os militares brasileiros alcançam a mesma com sucesso no dia seguinte, 8 de Março de 1991, reconhecem a presença de vários equipamentos que havia sido roubados no ataque que sofreram e estimam o efectivo inimigo em cerca de 50 elementos. Desencadeiam o ataque à base cerca do meio-dia e alcançam sucesso total, com eliminação integral do efectivo guerrilheiro e sem qualquer baixa entre o efectivo brasileiro. A 9 de Março o comando conjunto da operação, Brasileiro e Colombiano, decide manter a intervenção em curso, até se conseguir mais informações que permitam localizar a demais presença das FARC na região.
Em Abril de 1991, as acções das várias unidades das forças armadas brasileiras ali colocadas, conseguem localizar a maior base da guerrilha na região - conduzindo, a 18 de Abril de 1991, a uma infiltração pela selva que, a 20 de Abril de 1991, os levaria, perto do anoitecer, até junto de tal base. As acções de reconhecimento de proximidade levadas a efeito no dia seguinte estimaram em 150 efectivos por parte dos guerrilheiros, bem como uma prisão com reféns e um conjunto alargado de mulheres e crianças, familiares dos guerrilheiros. Desta forma, e de acordo com as regras conjuntas fixadas, o comando Brasileiro opta por conduzir a passagem das operações daí em diante para as Forças Colombianas e retirar as suas operações especiais do terreno a 22 de Abril de 1991, dando por terminada, com alargado sucesso, a Operação Traíra.
Fotos via Forças Armadas do Brasil
Infografia de mapa via Jornal "O Globo", Rio de Janeiro
Composição e edição por "Espada & Escudo"
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