TERMINOLOGIA - MUNIÇÕES EM "CLUSTER" OU DE FRAGMENTAÇÃO?


Portugal
16 de Julho de 2023

Os projécteis explosivos de artilharia são compostos por um corpo metálico, oco, de forma cónica, preenchido com alto explosivo (como seja, por exemplo, TNT). Aquando da actuação da espoleta tem lugar a detonação desta carga explosiva e à desintegração do projéctil - resultando daqui dois efeitos destrutivos e letais: (i) sopro; e (ii) fragmentação (pela projecção de fragmentos do corpo metálico do mesmo). Todas as munições explosivas de artilharia são, "tout court", munições de fragmentação.

Este efeito de fragmentação é potenciado com o uso de cargas onde, no interior do projéctil, além do alto explosivo, constam dezenas, centenas ou mesmo milhares de elementos metálicos (com formas poligonais, esféricas ou de dardos). Exemplo disso pode ser considerado o modelo de munição APERS-T M546 (anti-pessoal), que, com um massa de 17,53 kg, contém 8 000 dardos metálicos no interior do projéctil. Recuando na história, até à artilharia Portuguesa de meados do Séc.º XV a meados do Séc.º XVI, temos as cargas das "rocas", compostas por sacos de metralha contendo pedras e pedaços de metal, https://youtu.be/YbEzKRtTdWs?t=238 . Tudo munições de fragmentação.

As munições de "cluster" correspondem a uma tipologia substancialmente diversa destas. O "cluster" corresponde ao armazenamento de um conjunto de sub-munições individualizadas no interior do projéctil, e que são dispersas sobre a zona-alvo. Tomando como exemplo o modelo HE M444 (ICM) trata-se de uma munição com uma massa total de 19,05 kg (incluíndo carga propulsora), em que a actuação da espoleta leva à detonação de uma carga expulsora que leva à libertação das sub-munições (18 unidades de M39, armazenadas em 3 camadas com 6 unidades em cada) no interior do projéctil, dispersando as mesmas sobre a zona-alvo. Cada uma destas M39 comporta-se como uma munição "per se", sendo compostas de forma individualizada pela sua própria carga de alto explosivo (A5), material de fragmentação (esfera de aço onde está colocado o explosivo) e uma espoleta.

A documentação oficial da "Convention on Cluster Munitions" (CCM), datada de 30 de Maio de 2008, está publicada originalmente em 3 línguas - inglês, francês e castelhano (e com traduções oficiais para russo, mandarim e árabe; não existindo qualquer documento oficial em língua portuguesa). Em inglês a designação usada é "cluster munitions" ("conjunto de munições"); em francês é usada "sous-munitions" ("sub-munições"); em castelhano "municiones en racimo" ("munições em cacho"). O termo "munições de fragmentação" não é aqui usado (ainda que o mesmo exista nestas três línguas). Mais - o termo "munições de fragmentação" não é usado pelo Exército Português, onde a expressão formal é projéctil convencional melhorado ("Improved Convencional Munitions", ICM) ou, em uso corrente, "cluster" ou "em cacho".

Em suma - as munições explosivas de artilharia são todas elas de fragmentação (o sopro e fragmentação são o resultado da detonação de todas elas). O principal objectivo das munições de "cluster" é o aumento da dispersão da carga sobre a superfície da zona-alvo (e não o aumento da fragmentação). As munições de "cluster" devem ser designadas como tal e não por "de fragmentação".

Foto com diagramas em corte de projécteis para uso na peça de artilharia de campanha britânica RML de 12 polegadas, 305 mm (à esquerda, Mark IV, perfuradora de blindagem anti-navio; ao centro, Mark III, de carga explosiva "standard"; e, à direita, Mark I, com esferas no interior), 1884 | Via "War Office", London, UK


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