Operação "Midnight Hammer" - Estados Unidos atacam três infra-estruturas nucleares do Irão


Irão 
22 de Junho de 2025

As Forças Armadas dos Estados Unidos desencadearam, na noite de 21 para 22 de Junho de 2025, a Operação "Midnight Hammer" ("Martelo da Meia-Noite"), coordenada pelo General Michael “Erik” Kurilla do US CENTCOM, atacando três instalações nucleares da República Islâmica do Irão (Fordow, Natanz e Isfhan), com recurso a bombas GBU 57 MOP, projectadas a partir de bombardeiros estratégicos B-2 "Spirit", e mísseis de cruzeiro "Tomahawk", lançados a partir de um submarino nuclear de ataque.
Uma força de 7 bombardeiros B-2 da "509th Bomb Wing", partiu da sua base em Whiteman, no Estado do Missouri, na região central dos EUA, cerca da meia-noite local (dando origem ao nome da operação) de 20 para 21 de Junho de 2025. Ao mesmo tempo uma outra força de B-2 seguiu rumo a Oeste, para o Pacífico, para servir de engodo e manter a segurança operacional da força efectiva, que rumava a Leste, para o Atlântico. Ao longo de um voo de 18 horas, até aos seus objectivos na região centro-norte do Irão, receberam vários re-abastecimentos em voo, e, já sobre território Europeu, receberam a sua escolta de caças. Cerca das 21:00 UTC de 21 de Junho de 2025, um submarino nuclear da Marinha dos Estados Unidos, a operar no Teatro de Operações do Golfo de Omã, projectou mais de 24 mísseis de cruzeiro "Tomahawk" contra infra-estuturas de superfície dos objectivos no Irão, a cerca de 2 000 km de distância.
Com o apoio das aeronaves da sua escolta, de 4.a e 5.a geração, procedendo a acções de guerra electrónica e de prevenção activa e passiva contra possíveis ameaças anti-aéreas ou aéreas, a força de bombardeiros B-2 prosseguiu para os seus objectivos nas instalações nucleares de Fordow e Natanz, que alcançariam cerca das 22:40 UTC de 21 de Junho de 2025, 02:10 de 22 de Junho na hora local iraniana. Um primeiro B-2 inciaria o ataque projectando as primeiras duas bombas GBU 57 MOP sobre Fordow, constituindo a estreia em uso operacional desta arma. Seriam projectadas um total de 14 bombas GBU 57 MOP contra os objectivos subterrâneos de Fordow e Natanz. Este ataque decorreu entre as 22:40 UTC e as 23:05 UTC, sendo seguido do impacto dos mísseis de cruzeiro "Tomahawk" (em voo desde as 21:00 UTC) sobre Isfhan, mais a Sul, garantindo o efeito de surpresa do bombardeamento executado pela força de B-2, que sairiam do espaço iraniano pelas 23:30 UTC, regressando ao Missouri. No total da operação foram usadas 75 armas guiadas, compreendendo também armas de ataque a sistemas de defesa anti-aérea das Forças do Irão.
Em termos de acções de reabastecimento em voo, a força de bombardeiros B-2 contou com três áreas de operação identificadas, conforme assinalado na infografia publicada hoje, 22 de Junho de 2025, pelo Departamento de Defesa dos EUA: (i) sobre o território dos EUA, na respectiva costa Leste; (ii) sobre o Atlântico, com meios a operar a partir da Base Aérea das Lajes, na Ilha Terceira, nos Açores; e (iii) sobre o Mediterrâneo Oriental, na região do Mar Egeu. Foram visualmente referenciadas várias aeronaves de reabastecimento em voo, Boeing KC‑135R/T Stratotanker e Boeing KC‑46A Pegasus, da Força Aérea dos EUA, estacionadas na placa da Base das Lajes já a 19 de Junho de 2025.
Esta operação das forças norte-americanas sucede após a Operação "Rising Lion", lançada por Israel de 12 para 13 de Junho contra a República Islâmica do Irão, visando a destruição de instalações e equipamentos de enriquecimento de urânio e as plataformas nucleares da República Islâmica do Irão, bem como dos meios de projecção de mísseis balísticos, e dos sistemas de defesa anti-aérea da faixa ocidental do país.
Fordow é uma infra-estrutura subterrânea, sob uma das vertentes da montanha Dagh Ghu'i ("Quente" em persa), a 80-90 metros de profundidade, a operar desde 2006 e tornada pública com com uma primeira inspecção da Agência Internacional de Energia Atómica ("International Atomic Energy Agency", IAEA) em Outubro de 2009. Opera com cerca de 2 200 centrifugadoras, incluindo modelos IR‑6 instalados a partir de 2021, destinadas ao enriquecimento de urânio. Natanz corresponde à principal instalação iraniana de enriquecimento de urânio, contando com 14 000 centrifugadoras, instaladas em subsolo fortificado, a cerca de 8 metros, compreendendo betão e solo compactado. Isfahan, é um complexo nuclear associado ao ciclo do combustível, compreendendo unidades de conversão de concentrado de urânio ("yellowcake") em hexafluoreto de urânio - posteriormente transferido para infra-estruturas de enriquecimento como as antes indicadas e visadas pelo ataque.
As instalações de centrifugadoras de enriquecimento de urânio (U-235) em Natanz e Fordow, concebidas inicialmente para níveis de 3 a 5%, para fins energéticos, terão sido posteriormente adaptadas para atingir valores na ordem dos 60%, sem aplicação civil e aproximando-se do limiar técnico que permite, com meios adequados, a transição para urânio altamente enriquecido (acima dos 90%), passível de utilização em armamento nuclear. À data de 31 de Maio de 2025, a IEAE reportou que o stock de urânio iraniano enriquecido até 60 % ascenderia a 408,6 kg, o que representa um aumento de aproximadamente 48,7 % face aos 274,8 kg indicados no relatório de Fevereiro de 2025 e de cerca de 124 % face aos 182,3 kg reportados no relatório de Outubro de 2024.
A GBU-57 "Massive Ordnance Penetrator" (MOP) é uma bomba, guiada, de 13,6 toneladas (30 000 libras), com um comprimento de 6,2 metros e um diâmetro de 0,8 metros, com uma carga de 2,4 toneladas de alto-explosivo (10% de AFX-757, como "booster"; e 90% de PBXN-114 como carga principal), desenhada para penetração de infra-estruturas subterrâneas, conseguindo penetrar 60 metros (200 pés) de composto misto de solo e rocha ou cerca de 18 metros (60 pés) de betão de alta densidade (5000 PSI). O bombardeiro estratégico B-2 "Spirit" é o único certificado para a sua projecção, conseguindo transportar até 2 unidades nas suas baias (requerendo uma redução de cerca de 12% da quantidade de combustível e autonomia).
Guiada por sistema de navegação por inércia e por satélite, e com suporte de aletas de estabilização, a MOP utiliza toda a sua energia cinética, aliada a uma estrutura reforçada de elevada densidade com cerca de 7,75 centímetros de espessura, para penetrar sucessivamente camadas de solo, rocha ou betão, avançando em direcção ao objectivo subterrâneo. A sua espoleta apenas se activa após cessar a penetração (ou ao detectar uma cavidade) assegurando que a detonação ocorra no interior da infra-estrutura a atingir — maximizando o efeito destrutivo sobre a mesma.
Infografia via General Dan Caine (USAF), Chairman of the Joint Chiefs of Staff, "briefing" no Pentágono pelas 12:10 UTC de 22 de Junho de 2025 (hora local 08:10 no Estado da Virgínia e em Washington, D.C., EUA).



Aeronaves de reabastecimento em voo, Boeing KC‑135R/T Stratotanker e Boeing KC‑46A Pegasus, da Força Aérea dos EUA, estacionadas na placa da Base das Lajes, a 19 de Junho de 2025. Foto por Kurt Mendonça via Asas dos Açores







Imagem de satélite MAXAR, 22Jun2025, com anotações por Espada & Escudo, do que se evidencia serem 2 grupos de 3 penetrações de GBU-57, em Fordow.



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