O "23-F" de 1981 - Golpe de Estado em Espanha


23 e 24 de Fevereiro de 1981 
Madrid e Valencia, Espanha

A 23 de Fevereiro de 1981, conduzido pelo Tenente-Coronel Antonio Tejero Molina, o Reino de Espanha era alvo de um Golpe de Estado, que ficou conhecido pelo "23-F" (expressão correspondente ao dia e à inicial do mês). Este mesmo oficial da Guardia Civil, conduzindo 301 operacionais desta força (oito capitães, oito tenentes e 285 sargentos, cabos e guardas) tomou de assalto pelas 18:23 o Palacio de las Cortes, em Madrid, durante a votação do Congresso dos Deputados destinada à investidura de Leopoldo Calvo-Sotelo como Primeiro-Ministro (que iria suceder ao demissionário Adolfo Suárez). Os elementos desta força procedem a 37 disparos, para o ar, pouco após entrarem em plena sala do parlamento - por Antonio Tejero, com a sua pistola Star PD, calibre .45 ACP, e por alguns dos demais elementos da Guardia Civil, também para o ar, com as suas sub-metralhadoras Star Z-70(B), calibre 9×19mm Parabellum, com carregadores de 30 ou 36 munições.
Confirmada, pelas 18:30, a tomada do Palacio de las Cortes, associada à senha de sucesso "Naranjas" ("Laranjas"), o Tenente-General do Exército, Jaime Milans del Bosch, com o comando da III Região Militar, decreta o estado de emergência em Valência e conduz a Operação Turia, levando uma força da Divisão "Maestrazgo" III, com 1 800 homens, viaturas pesadas de transporte de pessoal e material, peças de artilharia rebocadas e 5 dezenas de carros de combate M47 "Patton", a tomarem a sede do Ayuntamiento (o governo municipal), o acesso às principais pontes sobre o Rio Turia e as sedes locais de rádio e televisão. Valência, capital da comunidade autónoma do mesmo nome, junto ao Mediterrâneo, a cerca de 300 km a Leste de Madrid, é, depois da Andaluzia, da Catalunha e de Madrid, a quarta comunidade com mais população do Reino de Espanha (então com 3 milhões e meio de habitantes).
Pelas 01:15 de 24 de Fevereiro de 1981, cerca de 7 horas após o início do Golpe de Estado, o Rei Juan Carlos I, via RTVE (Radio y Televisión Española), como Capitão-General e envergado farda militar, na sua qualidade constitucional (Art.º 62) de Comantes Supremo das Forças Armadas, discursa televisivamante ao País, explicitando que o fazia de forma breve e concisa, durante cerca de 1 minuto e meio, repudiando o Golpe e declarando a confiança na constituição, nas instituições democráticas e o apoio das chefias militares ("Junta de Jefes de Estado Mayor") e autoridades civis.
Sem apoio efectivo no terreno das demais 8 regiões militares, nem das "Capitanías" das Baleares ou das Canárias, e perante esta mensagem e contactos directos (telefónicos) anteriores e posteriores, de Juan Carlos I, del Bosch desmobiliza a partir das 01:20 e ordena às suas forças que retirem das posições ocupadas na cidade de Valência.
Na manhã seguinte, em Madrid, pelas 11:25, Tejero acede aos termos da sua rendição, mediada e conduzida pelo General Alfonso Armada e o golpe viria a fracassar pelo meio-dia de 24 de Fevereiro de 1981, volvidas 17 horas e meia de sequestro dos deputados no Palacio de las Cortes em Madrid.
Viriam a ser condenados 30 indíviduos (17 da Guardia Civil, 12 das Forças Armadas e 1 civil), pelo "Consejo Supremo de Justicia Militar" (e após recursos apreciados pelo "Tribunal Supremo"), entre os quais Tejero e del Bosch, ambos a penas de 30 anos de prisão. Tejero cumpriria 15 anos, sendo libertado a 2 de Dezembro de 1996 (com 64 anos); del Bosch cumpriria 9 anos, sendo libertado a 1 de Julho de 1991 (vindo a falecer, com 82 anos, em 1997). Tejero tem hoje 92 anos, vivendo entre Madrid e em Málaga, sua terra natal. Também condenado a uma pena de 30 anos (reduzida pelo Supremo para 26 anos e 8 meses), foi Armada (que tendo suportado o processo de rendição fez parte do Golpe), cumpriria 7 anos da mesma, sendo libertado em 1988, com 68 anos (vindo a falecer em 2013, com 94 anos).
A 25 de Fevereiro de 1981, a votação de investidura de Leopoldo Calvo-Sotelo como Primeiro Ministro foi retomada, o mesmo foi aprovado e governou até 2 de Dezembro de 1982, sendo sucedido, na sequência das eleições de 29 de Outubro de 1982, por Felipe González. Cerca de 1 mês após este Golpe de Estado, a 30 de Maio de 1982, Espanha tornar-se-ia o 16.º membro da NATO. O "23-F" foi, há apenas 4 décadas, o Golpe de Estado cronologicamente mais recente na História e na Geografia da Europa Ocidental.







Créditos das fotos
i. P/B, interior do "Palácio de las Cortes" por Manuel Pérez Barriopedro;
ii P/B, carro de combate junto "Gobierno Militar" de Valência por José Penalba;
iii. P/B, carros de combate nas ruas de Valência por José Penalba;
iv. Cor, carros de combate na ponte sobre o rio Turia, Valência, por José Manuel Arroyo Viguer;
v. P/B, exterior do "Palácio de las Cortes" por Manuel Hernández de León.




Vídeo, Valência, noite de 23 para 24 de Fevereiro de 1981. Operação Turia





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