A "TRAÇA LEOPARDO" - DA AMADORA A DÍLI (E VOLTA)


Lisboa-Timor-Lisboa
25 de Outubro a 21 de Dezembro de 1934

Em 1934, dois militares da Força Aérea Portuguesa (FAP), o Tenente Humberto da Cruz (piloto) e o Sargento António Gonçalves Lobato (mecânico), realizaram aquela que ficou conhecida como "A Viagem do Dilly", uma ligação aérea de Lisboa a Timor, e regresso, com mais de 40 mil km percorridos e mais de 260 horas de voo aos comandos de um De Havilland D.H. 85 Leopard Moth.

A aeronave foi adquirida ao fabricante britânico De Havilland Aircraft Co., Ltd., e transportada desde a fábrica em Stag Lane, em Inglaterra, até Portugal, pilotada por Humberto da Cruz. Modificada com depósitos suplementares de combustível e óleo, aumentando a sua autonomia de 6 para 9 horas voo, pintada de vermelho, com o número 30 na fuselagem, com a frase "Com Deus pela Pátria" pintada na cobertura frontal do motor e com as Cruzes de Cristo da FAP nas asas, a partida, rumo a Timor, teve lugar a 25 de Outubro de 1934 a partir do Campo de Aviação da Amadora, no Casal do Borel (onde hoje está instalada a Academia Militar). Alcançariam Timor a 7 de Novembro e, a 13 do mesmo mês, partiriam de regresso a Portugal, com várias escalas especiais pelo percurso, em particular em Macau e em Goa, terminando esta viagem a 21 de Dezembro de 1934.

A etapa inicial levou o D.H. 85 Leopard Moth da Amadora até à Argélia e, no dia seguinte, rumo a Trípoli, na Líbia. A 29 de Outubro de 1934 fazem escala em Gaza e daqui partem rumo a Bsara no Iraque, onde, após 9 horas de voo são recebidos, com enorme entusiasmo, pelos pilotos britânicos da Esquadra 45 (RAF), "Per Ardua Surgo". Seguiram-se etapas na Pérsia e na Índia, na Birmânia e até a Bangkok, na Tailândia. Seguem rumo a Malaca e a Singapura. No dia 7 de Novembro o pequeno monomotor, após um voo de 8 horas, alcança Timor e aterra em Díli. O nome "Dilly" apenas é atribuído a esta aeronave precisamente após a chegada a Timor - e corresponde a uma das grafias alternativas para a capital de Timor, Díli.

A 13 de Novembro de 1934, o "Dilly" parte de Timor rumo a Macau. Nas portas da cabine levava pintado "Mano-Lafaic", que significa "Ave-Jacaré" ("Jacaré Voador"), o nome mítico dos indígenas timorenses. Chegariam a Macau a 20 de Novembro de 1924, após escalas em Surabaya (cidade portuária na ilha de Java, Indonésia), em Singapura, em Bangkok e em Hanói (Indochina). Após uma escala de 4 dias em Macau, partem rumo a Goa, onde conseguem estar presentes a 1 de Dezembro, celebrando a Restauração da Independência do Reino de Portugal (1640). Parte dali rumo a Bombaim e a Diu e, prosseguindo rumo a Portugal, passam ainda por Baghdad, pelo Cairo, Benghazi, Trípoli, Túnis, Oran e, finalmente, a 21 de Dezembro de 1934, aterram no Campo de Aviação da Amadora terminando com sucesso uma das maiores façanhas de ligação aérea da aviação Portuguesa.

À inscrição realizada em Timor, juntou-se em Macau, o trabalho de um artista chinês que nas laterais de cobertura do motor, pintou, como alegorias, uma fénix e um dragão entre nuvens, aos quais adicionou os caracteres chineses para "riqueza, felicidade e muitos filhos", como expressão de amizade e boa sorte para a missão.

A aeronave De Havilland D.H. 85 Leopard Moth teve o seu primeiro protótipo a voar a 27 de Maio de 1933, tendo sendo produzidas pela De Havilland (D.H.) Aircraft Co., Ltd., até 1936, um total de 132 unidades. Trata-se de um monoplano, de asa alta, de construção em aço tubular com cobertura em madeira e têxtil, de 3 lugares (piloto em posição central, e 2 posições logo atrás do mesmo), com um comprimento de 7,47 metros e uma envergadura de asa de 11,43 metros. Propulsionada por um motor D.H. "Gipsy Major", de 4 cilindros, com 130 hp, consegue uma velocidade máxima de 225,3 km/h (de 191,5 km/h em cruzeiro), com um consumo de 22,3 litros por hora na velocidade de cruzeiro e um alcance de 1 138 km, com um tecto máximo de 5 280 m. O "Leopard Moth", cujo nome deriva do insecto homónimo (Traça-Leopardo, cientif. "Zeuzera pyrina"), permite, tal como este, a recolha articulada das suas asas, em linha com a fuselagem, permitindo a sua armazenagem e transporte em espaços reduzidos.

Os dois militares portugueses percorreram 42 670 km ao longo de 260,25 horas de voo - a título comparativo a travessia aérea do Atlântico Sul, 12 anos antes, em 1922, por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, percorreu 8 383 km em 62 horas de voo e recorreu a 3 aeronaves para a completar, ref. https://www.facebook.com/.../a.107374995.../155107997053053/ ).

Fotos via Museu do Ar | FAP
Desenho técnico via NACA (Aircraft Circular No.- 186, Dec 1933)
Modelo à escala por Rui Soares | Foto por "Pedro Mateus Photography"
Composição e edição por Espada & Escudo

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